Em 2022, o Setenta e Quatro ultrapassou 1,1 milhões de visitas. Neste ano que agora termina publicámos uma investigação sobre o discurso de ódio nas forças de segurança, revelámos as ligações de um dirigente associativo ucraniano à extrema-direita, alertámos sobre como o extremismo de direita pode beneficiar da guerra na Ucrânia e abordámos a fundo a violência obstétrica. Neste artigo destacamos os dez artigos mais lidos em 2022.
No baú dos grupos fechados das forças de segurança, os polícias pensam que ninguém está a ver e que o que dizem fica guardado no segredo dos deuses. Mas não fica. O Setenta e Quatro identificou 591 agentes da PSP e militares da GNR que no Facebook fazem apelos ao assassinato de políticos, à violação de mulheres, tecem comentários racistas, xenófobos, misóginos e homofóbicos. Querem fazer justiça pelas próprias mãos contra alegados criminosos, adoram André Ventura, detestam minorias étnicas, fazem saudações nazis e divulgam propaganda fascista.
A investigação, a primeira d'O Consórcio - Rede de Jornalistas de Investigação, o primeiro consórcio do género em Portugal, foi ainda publicada no Expresso, no Público e na Grande Reportagem da SIC.
É o líder mais conhecido da comunidade ucraniana em Portugal e, nos últimos meses, tornou-se presença assídua nos média portugueses. Mas quem é Pavlo Sadokha, presidente da Associação de Ucranianos em Portugal? Foi assessor de um deputado do Svoboda, partido de extrema-direita, e organizou a entrega de mantimentos ao neonazi batalhão Sich, ao batalhão do ultranacionalista Sector Direito e ao neonazi batalhão Azov.
A invasão da Ucrânia pela Rússia transformou-se na maior guerra das últimas décadas em solo europeu. O conflito internacionalizou-se e militantes de extrema-direita dirigiram-se para a Ucrânia para combater os russos e a Rússia, por seu lado, mobilizou mercenários e extremistas de direita. Estes militantes não querem saber do povo ucraniano, antes ganhar experiência militar e de combate. "A sua capacidade para planear e realizar ataques com sucesso de acordo com a sua ideologia aumenta massivamente", disse o Counter Extremism Project.
As situações de maus-tratos, abuso, violência verbal, ausência de informação ou negligência são frequentes entre as mulheres em situação de parto. Muitas vezes não há consciência do impacto que estas atitudes têm junte das mulheres. Falamos de violência obstétrica, expressão que não é aceite por grande parte dos profissionais de saúde desta área, mas que segundo as vítimas se adequa às experiências por que passam.
Nesta Investigação74 surgiram várias histórias de maus-tratos e por isso demos foco às histórias das mulheres que passaram por estas situações.
O Setenta e Quatro acompanhou por mais de um mês o caso de Carlos Araújo, atleta paraplégico e ex-campeão europeu de vela adaptada, que esteve isolado no seu quarto no lar da Boa Vontade, em Carcavelos. Não o podia abandonar sob a ameaça de não poder voltar e impediam que a comida lhe entrasse no quarto. Esta é uma história que mostra um sistema pouco atento e uma atitude desumana.
O massacre de Wiriamu, em Moçambique, aconteceu há 50 anos e foi um dos mais horrendos crimes da Guerra Colonial. Tropas portuguesas assassinaram a sangue frio quase 400 pessoas numa pequena aldeia e o seu reconhecimento pelo Estado português tardou a chegar. Uma das pessoas que evitou que este massacre caísse no esquecimento foi Mustafah Dhada. O historiador demonstrou que este massacre não foi algo pontual, mas consequência direta da violência colonial sistémica.
A pobreza grassava no Portugal de António de Oliveira Salazar quando milhares de famílias receberam incentivos para irem para a África portuguesa, sobretudo Angola e Moçambique, reforçar a ocupação branca e a ideia do Portugal pluricontinental. O Estado Novo exportou a pobreza e usou os retornados como peões no xadrez colonial, delegou-lhes um papel essencial na subjugação dos povos colonizados. Receberam privilégios que nunca conheceriam no Portugal metropolitano, onde a pobreza grassava: salário quatro ou cinco vezes superior, casa garantida, modernos hábitos de consumo e ascensão social, tendo à sua mercê uma imensa mão-de-obra forçada nativa, incluindo crianças.
Mas o seu falso paraíso terminou com a Revolução de Abril de 1974 e com a independência das colónias. Os portugueses em África viram-se obrigados a regressar a Portugal. E as suas histórias, diz a antropóloga Elsa Peralta, continuam por contar.
Há 20 anos, celebrava-se com euforia a entrada em circulação da nova moeda da União Europeia, o euro. O Setenta e Quatro entrevistou o economista João Rodrigues sobre o legado desta moeda nas economias portuguesa e europeia para assinalar esta data. O Euro, para este professor da Universidade de Coimbra, serviu para serviu para baixar salários, fragilizar o setor público e reconstituir grupos económicos. A adesão de Portugal foi, argumenta, “a decisão mais desastrosa que o país tomou” em democracia.
Vários refugiados racializados relataram maus-tratos, racismo e discriminação nas fronteiras de saída da Ucrânia. Dois estudantes portugueses, Domingos Ngulonda e Mário Biaguê, contaram ao Setenta e Quatro as dificuldades com que se confrontaram para saírem da Ucrânia. Ativistas dos direitos humanos, estudantes e imigrantes defenderam que não pode haver tratamento diferenciado de refugiados e que a Europa deve abrir as suas portas a todas as pessoas que fogem da guerra.
O mundo editorial português (e internacional) tem sofrido profundas mudanças nos últimos anos. A cada vez maior concentração das editoras, transformadas em chancelas de grupos editoriais, alterou o papel do livro. De objeto aprimorado, cuidadosamente selecionado e com conteúdo de qualidade, passou a produto de entretenimento, de atualidade ou simplesmente best-seller. Cada livro tem de alcançar determinado objetivo de vendas definido em folhas de cálculo para assegurar lucros imediatos, explica neste ensaio Safaa Dib, ex-editora no Grupo Saída de Emergência.
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