Benjamin Netanyahu lidera agora o governo mais extremista desde a fundação do Estado de Israel, em 1948. A extrema-direita atingiu um novo patamar na política israelita: os seus líderes vão ocupar cargos de enorme importância, como o da Segurança Nacional. Quais as consequências para os palestinianos e para a democracia israelita?
Um gato branco, rameloso e de pêlo longo, pateia com a reticência natural dos gatos o telhado de cimento de uma casa da zona leste da cidade de Jenin, na Cisjordânia. Entre uma cadeira de plástico e uma grade para garrafas de vidro virada para servir de assento, o bicho demora-se a cheirar uma mancha acastanhada de sangue antes de se chegar às pernas de Adham Zakarneh.
“Depois de as forças israelitas se irem embora, o meu tio mandou-me chamar a minha irmã”, disse Adham à Al-Jazeera. “Encontrei-a morta, com o gato ao seu lado”, explicou o rapaz palestiniano de 13 anos. A sua única irmã chamava-se Jana Zakarneh e tinha 16 anos. Foi morta a tiro pelo exército israelita na noite de 11 de dezembro. A jovem terá subido ao telhado, segundo a sua família, para ir buscar o seu gato, Lulu, depois de ter ouvido tiros nas imediações da sua casa. Jana foi atingida quatro vezes: duas na cara, uma no pescoço e outra no ombro.
Não passava das dez da noite quando soldados israelitas, que supostamente procuravam “terroristas armados”, se envolveram numa “troca de fogo”, segundo o Middle East Eye. Num comunicado oficial das Forças Armadas Israelitas (IDF), o exército assumiu a responsabilidade pela morte da adolescente, declarando todavia ter sido acidental, afastando assim responsabilidades criminais. Jana estava “nas proximidades” do “ambiente de combate”, diz o comunicado. Mas os soldados disparavam "para todos os lados”, garantiu à CNN Majed Zakarneh, pai de Jana.
A palestiniana de 16 anos foi uma das 146 pessoas assassinadas em 2022 pelas forças de ocupação israelitas só nos territórios da Cisjordânia, segundo o Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU. Se incluirmos Jerusalém Ocidental e a Faixa de Gaza, o Ministério da Saúde da Autoridade Palestiniana (AP) diz que o número sobe para lá dos 250 mortos. Além disso, há milhares de palestinianos, inclusive centenas de crianças, detidos em prisões israelitas, com organizações de direitos humanos a alertarem para consecutivos abusos e até torturas.
Nesta conta macabra estão 47 menores, como Jana. Três dias antes, Diaa al-Rimawi, também de 16 anos, foi morto com dois tiros nas costas por atirar pedras contra viaturas dos militares durante uma incursão do exército no norte da cidade de Ramallah. O corpo do jovem foi levado pelos militares, impedindo a família de proceder ao seu funeral e respetivo luto.
Os ataques terroristas contra cidadãos israelitas também aumentaram em cidades como Telaviv e Jerusalém, contando-se pelo menos 27 vítimas mortais. Além de ataques individuais, nos quais se incluem esfaqueamentos e espancamentos, na manhã de 23 de novembro rebentaram dois engenhos explosivos no norte de Jerusalém, com meia hora de diferença entre eles.
A primeira explosão, numa paragem de autocarro, causou um morto — um jovem canadiano-israelita de 15 anos. A segunda, num entroncamento rodoviário numa das principais entradas da cidade, vitimou um homem de 50 anos. Ao todo, 20 pessoas ficaram feridas. Os atentados terroristas não foram reivindicados e o Hamas negou qualquer responsabilidade, ainda que Abd al-Latif al-Qanua, porta-voz do movimento palestiniano, os tenha considerado um “ato heróico, digno de louvor”.
“Já estamos na Terceira Intifada”, afirma o historiador israelita Ilan Pappé. “Os jovens estão a pegar em armas, é a primeira fase.”
Ao mesmo tempo, as tensões na Cisjordânia ocupada não param de escalar. Só entre os dias 10 e 21 de outubro de 2022 houve mais de 100 ataques de colonos israelitas, relatou o Haaretz, contra palestinianos na Cisjordânia — alguns com a colaboração, a conivência ou a tolerância de soldados israelitas. Cinco dias depois do assassinato de Jana, dois irmãos palestinianos foram deliberadamente atropelados por um colono israelita nas proximidades de um posto de controlo fronteiriço em Nablus.
As mortes diárias, as demolições de infraestruturas (algumas essenciais) em terras palestinianas, os ataques organizados de colonos contra famílias palestinianas, os despejos forçados, as ocupações de casas de residentes e as incursões cada vez mais violentas nos territórios ocupados têm feito reerguer alguns antigos grupos e movimentos armados, como as Brigadas dos Mártires de al-Aqsa (ligadas ao Fatah, partido de Mahmoud Abbas), e criado outros, brigadas de resistência popular violenta à ocupação militar israelita. Alguns destes movimentos, como as Brigadas de Jenin ou A Toca dos Leões, foram criados depois da crise de maio de 2021, quando as forças israelitas bombardearam mais uma vez a Faixa de Gaza, e têm sido o principal alvo das forças armadas israelitas. São, além disso, uma permanente justificação para os raids consecutivos em zonas civis.
A Cisjordânia ocupada, controlada militarmente por Israel, é hoje um território a chegar ao ponto de ebulição. “Israel tem consistentemente reinventado as suas formas de opressão e controlo sobre as populações indígenas”, disse ao Setenta e Quatro Denijal Jegić, investigador e professor na Lebanese American University, “porque precisa de violência constante para sobreviver”. “E os palestinianos vão continuar a resistir de todas as maneiras possíveis.”
Uma resistência que pode estar a entrar num novo momento. “Já estamos na Terceira Intifada”, afirma ao Setenta e Quatro o historiador israelita Ilan Pappé. “Os jovens estão a pegar em armas, é a primeira fase”, acrescenta Pappé. “Uma terceira intifada parece definitivamente mais perto”, concorda Lena Obermaier, investigadora do Centro Europeu de Estudos Palestinianos, “ainda que Israel tenha feito um bom trabalho em separar os palestinianos, seja entre diferentes locais ou dentro da Cisjordânia ocupada”.
Ainda que possa servir para qualificar rebeliões noutras coordenadas, intifada tem sido o nome dado às revoltas populares violentas, mais ou menos organizadas, levadas a cabo pelos palestinianos em Gaza e na Cisjordânia contra a ocupação israelita. A primeira durou de dezembro de 1987 a setembro de 1993 e a segunda de setembro de 2000 até ao final de 2005. Causaram, no total, mais de cinco mil mortos do lado palestiniano e 1400 do israelita.
Esta possível terceira intifada, a acontecer, ocorrerá num momento muito particular da política israelita, que se tem radicalizado significativamente nos últimos 20 anos — em 2018, o parlamento aprovou uma lei materialmente constitucional que transformou Israel no “Estado do povo judaico”, excluindo a minoria árabe israelita. E tudo indica que a política israelita entrou numa nova fase com o governo mais extremista da história do país.
No passado 29 de dezembro, o parlamento israelita (Knesset) empossou o novo governo de Benjamin Netanyahu que une políticos da extrema-direita sionista e ultraortodoxos. Um dos novos membros do executivo é Itamar Ben-Gvir, advogado que vive num colonato ilegal e que foi condenado, em 2007, por apelo ao genocídio dos palestinianos e apoio ao terrorismo de extrema-direita. É agora ministro da Segurança Nacional, com amplos poderes sobre as forças policiais israelitas, especialmente as de fronteira.
Qual o significado — tanto para o povo palestiniano como para a democracia israelita — desta assumida viragem política para a extrema-direita?
Cerca de um mês antes das mortes de Jana Zakarneh e Diaa al-Rimawi, Israel foi a eleições para o Knesset. Ainda não eram 6h da manhã do dia 2 de novembro, quando Itamar Ben-Gvir, advogado e deputado ao parlamento, publicou uma mensagem no Twitter, celebrando os resultados das eleições legislativas do dia anterior: “Bom dia com Israel! Chegou a hora de um governo de direita absoluto! É hora de sermos os senhorios do nosso país!”.
Esta última frase, de curiosa formulação, tinha a sua razão de ser. É uma referência às palavras que o próprio Ben-Gvir dirigiu aos moradores palestinianos do bairro de Sheikh Jarrah, na parte oriental de Jerusalém, menos de um mês antes das eleições, e que não deixaram de chocar. De quipá na cabeça e arma de fogo na mão, Ben-Gvir exortou os soldados do exército israelita a dispararem sobre os residentes que atiravam pedras aos colonos israelitas e gritou: “os senhorios aqui somos nós! Lembrem-se disso!”.
Há mais de uma década que Ben-Gvir, membro e agente provocador do partido ultranacionalista Kach (ilegalizado em Israel e declarado grupo terrorista pelos EUA) na sua juventude, é conhecido pelas suas palavras inflamatórias e, mais recentemente, pela presença provocatória em incursões pelos territórios ocupados. Também tem sido figura habitual nas invasões à mesquita de al-Aqsa, um dos templos mais sagrados de todo o mundo islâmico, e que o seu campo político pondera demolir.
O agora ministro da Segurança Nacional também tem sido um apoiante vocal dos colonos que formam colonatos ilegais em terras palestinianas, chamando-lhes "heróis dedicados” que enchem as colinas da Cisjordânia de “santidade e pureza”. Ben-Gvir estende o mesmo apreço e admiração às forças militares e policiais, que, diz, protegem os israelitas de “pessoas amaldiçoadas”.
Fá-lo mesmo quando palestinianos são publicamente executados por polícias israelitas. Ammar Mefleh, palestiniano de 22 anos, foi mortalmente baleado por um agente da Polícia de Fronteira, em Huwwara, na Cisjordânia ocupada, a 2 de dezembro. Depois de uma discussão no meio da rua, junto a um posto de controlo fronteiriço, entre colonos e residentes, o agente, que ainda não foi identificado, tentou imobilizar Ammar Mefleh com um golpe de mata-leão.
Ao escapar, o palestiniano, desarmado, tentou entrar em confronto físico com o agente, tendo tropeçado e caído de costas entre dois carros. O agente — mostram as diferentes gravações do momento — disparou à queima roupa sobre Ammar, matando-o com um tiro no peito. À semelhança do que aconteceu com outros palestinianos assassinados, o corpo de Anmar Mefleh foi levado pelas autoridades e a família não pôde fazer o seu funeral.
Ben-Gvir exortou os soldados do exército israelita a dispararem sobre os residentes que atiravam pedras aos colonos israelitas e gritou: “os senhorios aqui somos nós! Lembrem-se disso!”.
Com o estilo pelo qual se tornou conhecido, Itamar Ben-Gvir foi um dos primeiros políticos israelitas a reagir ao assassinato. “Parabéns ao herói guerreiro que eliminou o desprezível terrorista”, escreveu no Twitter. O advogado ainda classificou a ação do agente como “precisa, ágil e rigorosa”, e ter-lhe-á dito ao telefone que este havia cumprido a “tarefa que lhe havia sido atribuída”.
Voltando a essa manhã pós-eleitoral de novembro, a vitória que Ben-Gvir celebrava era a sua — não a de Benjamin Netanyahu, que regressa ao cargo de primeiro-ministro ano e meio depois de o ter abandonado. A coligação pré-eleitoral entre o partido de Ben-Gvir, Poder Judeu, do qual é líder, e o Partido Sionista Religoso — ambos de extrema-direita teocrática e supremacista — obteve cerca de 10% dos votos, resultado sem precedentes para a extrema-direita israelita.
Com 14 lugares garantidos no Knesset, Ben-Gvir passou a ser uma peça-chave na formação do novo governo de Netanyahu, que queimou as poucas pontes que ainda tinha com a direita moderada e os centristas liberais. Netanyahu está a ser acusado dos crimes de abuso de confiança, fraude e suborno e a possibilidade de se aprovarem leis que lhe permitam evadir-se à justiça é considerada como uma das grandes razões para a sua aproximação à extrema-direita.
“Netanyahu não voltou a jogo para salvar Israel do centrismo de [Yair] Lapid, como afirmou, mas para salvar a própria pele”, diz ao Setenta e Quatro Lena Obermaier. Uma das estratégias de Netanyahu tem sido atacar a independência do sistema judicial israelita, pondo em causa a separação de poderes, um dos pilares das democracias liberais. É uma estratégia já levada a cabo por Viktor Orbán na Hungria, hoje considerada como “democracia iliberal” em plena União Europeia.
A composição extremista do novo governo israeltia vai além de Ben-Gvir. Bezalel Smotrich, o novo ministro das Finanças, lamentou no Knesset, em 2021, que Ben-Gurion não tenha “terminado o trabalho” da limpeza étnica da Palestina iniciada em 1948. Avi Maoz, que quer banir as marchas do orgulho LGBTQ+ em Israel e legalizar as práticas de conversão de orientação sexual, será vice-ministro e ficará encarregue de um gabinete para a promoção da “identidade judaica”. A eles juntar-se-ão os ultraortodoxos do Shas, do Noam e do Judaísmo Unido da Torá.
Mal as negociações para a nova coligação terminam, os seus deputados apressaram-se a cumprir o prazo para a tomada de posse do novo executivo e, portanto, a 27 de dezembro três leis controversas foram aprovadas pelo parlamento. Todas estas leis foram exigências não negociáveis para os partidos de extrema-direita apoiarem Netanyahu.
A primeira lei permitiu a Aryeh Deri, líder do Shas, ser ministro da Saúde e do Interior, assumindo mais tarde a pasta das Finanças. É que o político de extrema-direita renunciou ao cargo de deputado e foi proibido de ocupar cargos governativos por sete anos na sequência de um acordo judicial por evasão fiscal. A segunda lei atribuiu a Betzalel Smotrich, líder do partido ultraconservador Sionismo Religioso, o cargo de ministro independente dentro do Ministério da Defesa, ficando a seu cargo a supervisão da construção e outros assuntos civis referentes aos colonatos na Cisjordânia.
Bezalel Smotrich, novo ministro das Finanças, lamentou em 2021 que Ben-Gurion não tenha “terminado o trabalho” da limpeza étnica da Palestina iniciada em 1948.
E, por fim, a terceira lei deu a Ben-Gvir o cargo de Ministro da Segurança Nacional, expandindo a sua autoridade sobre as forças de segurança, principalmente sobre a polícia de fronteiras, definindo os seus “princípios gerais de ação”. A sua manifesta prioridade, enquanto ministro, será garantir total imunidade a agentes e soldados por quaisquer atos praticados no serviço das suas funções. Com Netanyahu a assumir que o seu executivo dará primazia à expansão dos colonatos na Cisjordânia, é de esperar que Ben-Gvir seja uma das figuras centrais na consumação desse desígnio.
“Mesmo que aconteça apenas parte do que Ben-Gvir prometeu fazer, isso já significa que haverá uma polícia privada e brutal que dirigirá as suas ações contra qualquer sinal de resistência palestiniana”, considera o historiador Ilan Pappé. O agora ministro da Segurança Nacional de Israel crê que a polícia deve ter mais liberdade para disparar sobre qualquer pessoa vista como ameaça. “Uma pedra pode ser fatal”, declarou Ben-Gvir. “Não digo que deva levar um tiro na cabeça, mas pelo menos numa perna”, clarificou o ministro de extrema-direita.
A banalização da violência mortífera não se deve ficar pelas forças de segurança. Colonos radicalizados “terão liberdade para perpetrar ataques violentos contra palestinianos, sobretudo em Jerusalém”, alerta Pappé. O historiador considera também que a ascensão de Ben-Gvir — e de outros políticos de extrema-direita — a um lugar cimeiro no governo levará a mais profanações da mesquita de al-Aqsa e “acelerará a limpeza étnica que já acontece em sítios como Sheikh Jarrah e Silwan”, bairros de Jerusalém oriental.
As palavras do historiador foram previdentes. Dias depois de Pappé ter falado com o Setenta e Quatro, Ben-Gvir anunciou, mal assumiu a pasta da Segurança Nacional, a intenção de visitar o Monte do Templo, em Jerusalém, onde está localizada a mesquita de al-Aqsa. Ainda que, depois de uma reunião com Netanyahu, tenha concordado em adiar a visita, Ben-Gvir acabou mesmo por visitar o local sagrado pelas 7 horas da manhã de 3 de janeiro, demorando-se pouco mais de um quarto de hora no local. “O nosso governo não se renderá às ameaças do Hamas”, afirmou Ben-Gvir, citado pelo The Times of Israel.
Foi a primeira vez que o fez como ministro. No passado mês de outubro, o então candidato ao Knesset pela Frente Nacional Judaica liderou uma invasão ao pátio da mesquita, considerada um dos templos mais sagrados do Islão, sob a proteção das autoridades israelitas. Sobre a rápida passagem de Ben-Gvir na passada terça-feira, a Autoridade Palestiniana considerou-a “uma provocação sem precedentes”. A polícia terá aumentado o nível de alerta em Jerusalém depois da visita do ministro da Segurança Nacional, sem que se tenha registado qualquer problema.
O ex-primeiro-ministro israelita Yair Lapid apelou a que Netanyahu impedisse a visita de Ben-Gvir, mal soube do seu anúncio, alertando que "pessoas morrerão" se as provocações continuarem. A Autoridade Palestiniana, por sua vez, avisou que levaria a visita como “uma declaração de guerra”. Nabil Abu Rudeineh, porta-voz da AP, avisou que as repetidas ameaças israelitas ao status quo em al-Aqsa “terão graves consequências para toda a gente”.
Esse status quo refere-se ao frágil entendimento de que os judeus não deverão orar ou celebrar ritos talmúdicos no Monte do Templo, algo que tem acontecido nas repetidas visitas de colonos israelitas ao local, inclusive sob a liderança espontânea do próprio Ben-Gvir. Local sagrado tanto para judeus como para muçulmanos, a disputa pela custódia do Monte do Templo (neste momento na mão de autoridades jordanas, mas cuja segurança é da responsabilidade de Israel) é um ponto nevrálgico do conflito israelo-palestiniano.
Em abril do ano passado, forças israelitas invadiram a mesquita de al-Aqsa pelo menos cinco vezes, disparando balas de borracha, granadas de atordoamento e de gás lacrimogéneo. Detiveram mais de 400 pessoas e feriram mais de 150 nas várias operações e, em pelo menos uma delas, abriram caminho para que 650 colonos entrassem pela mesquita adentro, encurralando-os. Dias depois, militantes de extrema-direita organizaram uma marcha para escalarem os confrontos e, sobretudo, reivindicarem a posse da zona sagrada. Em maio de 2022, voltaram-no a fazer com a anual Marcha da Bandeira, obrigando os palestinianos residentes na zona a esconderem-se nas suas casas para evitarem agressões, relatou a Al-Jazeera. As provocações têm sido uma constante, e já têm uma longa história.
A Segunda Intifada, que começou em setembro de 2000, ficou conhecida como a “intifada de al-Aqsa”. Sete anos depois da Primeira Intifada — durante os quais a ocupação israelita se aprofundou através da intensificação de colonatos ilegais — uma visita provocatória do então primeiro-ministro israelita Ariel Sharon ao templo muçulmano acendeu o rastilho da contestação popular. Cinco anos depois, Sharon e Mahmoud Abbas acordaram um cessar-fogo. Mas foi demasiado tarde para os cerca de mil israelitas e quatro mil palestinianos que morreram nos conflitos da Segunda Intifada.
Benjamin Netanyahu foi o primeiro líder de um governo israelita a ser acusado, ainda em funções, dos crimes de suborno, fraude e abuso de confiança. Estava-se em novembro de 2019 e afirmava-se que essa acusação inédita assinalava, acima de tudo, que Israel era uma democracia. Reagindo à decisão do tribunal, Netanyahu afirmou tratar-se de uma “caça às bruxas” contra si e o seu governo de direita, apontando baterias aos procuradores, aos juízes e, mais tarde, a todo o sistema judicial israelita, tentando descredibilizá-lo.
Tudo isto aconteceu quando se vivia um impasse legislativo. Entre abril de 2019 e março de 2020 houve três eleições legislativas para o Knesset. As primeiras duas foram incapazes de levar o parlamento israelita a decidir a formação de um governo e a terceira culminou num executivo de unidade nacional: Benny Gantz, do partido Azul e Branco, serviu de “primeiro-ministro alternativo” sob a liderança executiva de Benjamin Netanyahu.
Depois de uma pequena crise constitucional e de um orçamento de Estado chumbado, o Knesset foi novamente dissolvido. Novas eleições - as quartas em dois anos - foram marcadas para março de 2021. O resultado foi, mais uma vez, um parlamento dividido, dependente de negociações interpartidárias para a formação de um executivo — os governos israelitas sempre se basearam na formação de coligações, mas a fragmentação partidária no órgão legislativo tem atingido níveis inéditos nos últimos anos.
O impasse foi quebrado por uma improvável coligação, aprovada marginalmente no Knesset, depois de Netanyahu, mandatado pelo então presidente Reuven Rivlin, não conseguir apoios parlamentares suficientes para formar governo. Houve pela segunda vez um regime de rotação no posto de primeiro-ministro, partilhado entre Yiar Lapid, um centrista liberal, e Naftali Bennett, da extrema-direita sionista.
A coligação governamental foi então constituída por oito diferentes partidos vindos das várias coordenadas do espetro ideológico. Incluía, entre outros, os sociais-democratas do Meretez e do Partido Trabalhista, os nacionalistas seculares do Israel Nossa Casa e os nacionalistas sionistas do Yamina. Foi também a primeira vez que um partido árabe independente, o Lista Árabe Unida, representante dos israelitas árabes, fez parte de um governo. Foi uma coligação inédita e a extrema-direita aproveitou para atiçar o ódio contra os árabes israelitas, por si considerados cidadãos de segunda.
Assim, em junho de 2021, chegaram ao fim os 12 anos consecutivos (de um total de 15) de Benjamin Netanyahu à frente do governo de Israel. Depois do discurso de tomada de posse do novo executivo, Netanyahu prometeu ser na oposição um fervoroso combatente desse “governo perigoso” e trabalhar para regressar ao cargo de primeiro-ministro.
Ilan Pappé vê nesta aproximação à extrema-direita uma tentativa de Netanyahu “limpar” o seu cadastro.
O governo de muitas cabeças, com dois primeiros-ministros — e que queria aumentar as reformas dos pensionistas e dos veteranos de guerra e facilitar a conversão de gentios — demorou pouco mais de um ano a cair. Tirar Netanyahu do poder parecia ser o único assunto em que concordavam. Era, em suma, uma coligação negativa que não tardou a desmoronar: desavenças e desencontros internos e sucessivas derrotas parlamentares levaram Lapid e Bennett a dissolver novamente o Knesset a 29 de junho desse ano.
Bennett afastou-se do executivo antes do fim do mandato e Lapid assumiu a liderança do governo até às eleições do passado dia 1 de novembro. E os israelitas foram, pela quinta vez em três anos, chamados às urnas. Netanyahu e o seu partido, o Likud, conseguiram a maioria dos votos (cerca de 23%), assegurando 32 assentos no Knesset, pouco mais de metade do necessário (61) para formar uma maioria de governo.
Depois de uma campanha vitoriosa, centrada em temas como o aumento do custo de vida (o país vive uma crise no mercado de arrendamento, por exemplo), a segurança interna e o avanço das anexações na Cisjordânia, Netanyahu viu-se afastado de alguns dos seus aliados tradicionais. Mas isso não o impediu de garantir a sua continuidade no poder, optando por calibrar a sua abordagem: o seu grande aliado seria doravante a extrema-direita mais radical para evitar ser condenado pela Justiça.
Ilan Pappé vê nesta aproximação à extrema-direita uma tentativa de Netanyahu “limpar” o seu cadastro. Tanto o primeiro-ministro como os seus companheiros de governo concordam que políticos acusados de crimes podem continuar a exercer os seus cargos e estão dispostos a debilitar o poder judicial para que isso aconteça, em benefício do seu próprio poder legislativo.
Além disso, “Netanyahu não consegue conceber uma vida em que não tenha o poder absoluto que a liderança parlamentar lhe traz e à sua família”, afirma Pappé. Mas, “ideologicamente, ele é oco: a sua ideologia muda de acordo com o seu instinto de sobrevivência política”, disse o historiador israelita ao Setenta e Quatro.
Resta, agora, esperar para ver se esta relação de simbiose aparentemente benéfica para todos os envolvidos não se tornará parasitária, corroendo as instituições democráticas israelitas em prol do projeto colonial sionista. O certo é que a extrema-direita e os ultraortodoxas atingiram, apoiados nas urnas por uma juventude cada vez mais radicalizada, um poder e influência que seria difícil de imaginar até há uns anos.
No dia 21 de dezembro foi oficializada a coligação parlamentar que agora governa Israel. Encabeçada pelo Likud, juntou os extremistas do Poder Judeu, do Noam, e do Partido Sionista Religioso aos ultraortodoxos do Shas, presença habitual no governo, e do Judaísmo Unido da Torá. Muita coisa pode separar estas fações, mas todas se unem em dois pontos programáticos: preparar a anexação da Cisjordânia e dar ao Knesset o poder para passar por cima das decisões do Supremo Tribunal.
A junção entre um primeiro-ministro que quer perpetuar o seu poder e garantir imunidade judicial, líderes políticos ultraortodoxos que prometem impedir a “degeneração” da sociedade israelita e garantir o aumento dos benefícios para a comunidade haredi (um grupo maioritário dentro da ultraortodoxia), e políticos da extrema-direita sionista que desejam mandar nas forças de segurança do país e anexar o que resta dos territórios da Palestina tem causado apreensão tanto dentro como fora de Israel.
Até os Estados Unidos, há décadas o principal aliado de Israel, se mostraram apreensivos com o novo rumo do país banhado pela costa mediterrânica. A administração de Joe Biden admitiu responsabilizar Netanyahu por quaisquer abusos que o governo cometa contra os direitos civis e os direitos humanos. Membros da comunidade LBGTQ+ israelita mostraram-se apreensivos em relação ao seu futuro sob um governo que inclui um “orgulhoso homofóbico”, Bezalel Smotrich. E o próprio presidente israelita, Isaac Herzog, demonstrou preocupação em ter alguém como Itamar Ben-Gvir no governo.
Mas Netanyahu tem ignorado os constantes avisos e, desafiante, não perdeu a oportunidade de defender a sua coligação: “não sou eu que me junto a eles, são eles que se juntam a mim”. Mas as cedências feitas à extrema-direita sionista e aos representantes ultraortodoxos incluídas nos compromissos para viabilizar o governo, bem como a declaração do manifesto da coligação governativa (“o povo judaico tem o seu direito exclusivo e inalienável a toda a Terra de Israel”), não acalmam os receios de que o fim da “única democracia do Médio Oriente” pode estar próximo.
“O governo de Benjamin Netanyahu vai prometer aos aliados ocidentais de Israel, como fez no passado, que o Estado de Direito e a democracia serão respeitados”, afirmou Lena Obermaier ao Setenta e Quatro. “Mas nos jornais israelitas o tom será diferente - e mais belicoso”. Até porque na imprensa estrangeira a narrativa tem sido diferente.
O novo ministro das Finanças de Israel e antigo ativista de extrema-direita, Bezalel Smotrich, escreveu no Wall Street Journal que “o novo governo israelita não é” aquilo que se tem dito que é. Não se tratará de um governo de extrema-direita, mas de um executivo, argumentou, que trará estabilidade política e irá aproximar Israel do “modelo americano”.
Membros da comunidade LBGTQ+ israelita mostraram-se apreensivos em relação ao seu futuro sob um governo que inclui um “orgulhoso homofóbico”, Bezalel Smotrich.
Smotrich é, além de Ben-Gvir, uma das outras figuras de extrema-direita a levantar preocupações, junto com Avi Maoz e Aryeh Deri, ultraortodoxos. Segundo o Jerusalem Post, Maoz, do Noam (“amabilidade”, em português), tem uma lista negra de pessoas LGBTQ+ que trabalham na comunicação social israelita e quer demonstrar que há um lóbi gay a controlar os media. Autoproclamado anti-feminista, Maoz opõe-se a aulas de educação sexual, quer espaços de trabalho segregados por género e que as mulheres não sirvam nas forças armadas israelitas.
Um dos riscos trazidos por este executivo é o fortalecimento das ideias da supremacia judaica. Netanyahu prometeu criar dentro do Ministério da Educação, diz o Middle East Eye, uma agência focada na promoção da “identidade judaica”, que Maoz dirigirá. Mais de 300 diretores escolares e cerca de 50 presidentes de diferentes municípios israelitas assinaram uma petição a oporem-se a que Maoz, que mistura “nacionalismo, militarismo e fé”, decida que conteúdos extracurriculares podem ser ensinados aos jovens israelitas.
Ao mesmo tempo, o veterano Aryeh Deri, líder incontestado do partido sefardita ultraortodoxo Shas, antigo aliado de Benjamin Netanyahu e condenado por suborno e fraude fiscal, vai supervisionar a Autoridade para a População e Imigração ao ser ministro da Administração Interna, onde, diz, irá “preservar Israel como um país judeu”. Tido como o mais moderado dos extremistas eleitos, pretende refazer a Lei do Retorno (a aliyah, que permite aos netos de judeus da diáspora aceder à nacionalidade israelita), que afirma estar a ser abusada e a deturpar a identidade do país. Aryeh Deri é um dos ultraortodoxos no governo que quer tornar ainda mais restrita o acesso à cidadania israelita, redefinindo e limitando aquilo que considera a “identidade judaica”.
Já Smotrich, de ascendência ucraniana e educação ortodoxa, vive numa casa construída ilegalmente num colonato em território palestiniano. Enquanto advogado, ocupava-se, através da sua ONG, Revagim, a contestar legalmente a construção de novas casas nos territórios da Cisjordânia e a tentar legalizar a anexação de territórios palestinos. Apoia também, e vocalmente, a revogação da Lei do Retorno, ainda que em março do ano passado tenha tentado pôr em prática um plano de apoio à migração e assentamento em massa de refugiados judeus ucranianos para Israel.
Smotrich poderá ocupar um cargo vice-ministerial no Ministério da Defesa, dividindo responsabilidades com Yoav Gallant, antigo comandante das Forças Armadas Israelitas e atual ministro da Defesa, que lhe permitirá ter alguma autoridade sobre o controlo militar na Cisjordânia e das saídas e entradas da Faixa de Gaza. O novo ministro terá poder para restringir ainda mais o movimento de milhões de palestinianos e facilitar o assentamento de colonatos ilegais por parte de colonos israelitas. Com efeito, Smotrich é um dos principais apoiantes da anexação da Cisjordânia.
Para já, Bezalel Smotrich será ministro das Finanças (pasta que passará a Aryeh Deri em 2025) e promete um aprofundamento neoliberal na política económica. “Seguirei uma ampla política de livre mercado”, explicou Smotrich no texto que publicou no Wall Street Journal. Disse querer remover os controlos de preços e as restrições de importações instituídas pelo anterior governo. E completou: “Inspirados pelas leis de ‘direito ao trabalho’ [right-to-work] dos EUA, buscaremos medidas semelhantes para reduzir o controlo sindical da força de trabalho israelita”.
Duas semanas depois das eleições, Pappé escreveu que qualquer “restante aparência de democracia em Israel desaparecerá”, argumentando que há 20 anos Israel se arrasta para esta realidade. Desde os anos da Segunda Intifada que “a sociedade israelita percebeu que não pode ser democrática e judaica”, disse o historiador ao Setenta e Quatro. “Pode ser uma ou outra, mas não ambas. A charada da democracia caiu. Não há colonizadores progressistas.”
O historiador português Manuel Loff, especialista em estudos da extrema-direita, é da mesma opinião e considera o caso israelita muito “semelhante ao italiano, pela continuidade da presença da extrema-direita” nos governos liderados pelo Likud. Como em Itália, na Polónia ou na Hungria, a extrema-direita israelita foi escalando a instabilidade política para ascender ao poder.
Ambos os historiadores não creem que haverá uma mudança radical na realidade política e social, antes um agravamento das tendências que se têm feito sentir nas últimas décadas de ocupação colonial. Daí que não seja surpreendente que o governo conte agora com o apoio de quem advoga uma limpeza étnica dos palestinianos.
Mas nem por isso a entrada de figuras como Ben-Gvir e Smotrich no governo deixa de ser um salto da sociedade israelita para o extremo do espetro político, “ainda que Netanyahu não esteja muito longe das palavras e das ações” dos políticos de extrema-direita, ressalva ao Setenta e Quatro Yara Hawari. A analista sénior na Al-Shabaka considera que essas “figuras marginais” tornaram-se “aliados naturais” do primeiro-ministro pela sua “crescente popularidade entre os jovens”, até porque este “ficou sem mais opções” de coligação.
A colonização da Palestina tem sido, argumenta Pappé, uma política transversal aos partidos israelitas e, portanto, a grande diferença deste governo para os dos últimos 74 anos será qualitativa: terá mais “zelo e determinação” nas ações violentas e mais “desprezo pelas condenações internacionais”. A diferença entre os governos anteriores e o atual é, acrescenta o investigador Denijal Jegić, sobretudo diferente no que à retórica sobre a colonização diz respeito: mesmo que haja uma diferença entre a retórica “do centro, da direita e da extrema-direita”, pode não haver grandes diferenças nas suas maneiras de atuar. Estamos a falar, continuou, de um “regime de apartheid, cujas estruturas foram construídas sobre a supremacia e a segregação raciais”. Israel não tem, portanto, outra opção que não seja continuar as práticas violentas, visto que “a sua existência depende de violência constante”.
Com a presença no governo de figuras como Itamar Ben-Gvir, Bezalel Smotrich e Avi Maoz, essa violência pode tornar-se mais frequente, mais intrépida e sem supervisão. E a anexação da Cisjordânia — não sem resistência armada por parte dos palestinianos e a possibilidade de uma terceira Intifada — pode vir a ser uma realidade próxima.
“Ben-Gvir quer dar mais poderes à polícia de fronteira israelita e que os soldados façam o que lhes apetecer e o que ele mandar”, avisa Yara Hawari. “No fim de contas, a ideia é sempre a mesma: apagar a Palestina do mapa. Os mecanismos e as táticas podem mudar de acordo com o governo que está no poder - este é só uma variação mais cruelmente violenta”, disse a analista em resposta ao Setenta e Quatro.
“Ben-Gvir quer dar mais poderes à polícia de fronteira israelita e que os soldados façam o que lhes apetecer e o que ele mandar”, avisa Yara Hawari. “No fim de contas, a ideia é sempre a mesma: apagar a Palestina do mapa."
Com o poder legislativo prestes a sobrepôr-se ao poder judicial, como já se viu na Hungria e na Polónia, e com a legalização interna de práticas que vão contra leis e acordos internacionais, Benjamin Netanyahu parece ter descartado de vez a “ideia democrática” para se perpetuar no poder. Poderemos ver o triunfo “político das ideias judeofascistas” que não tiveram sucesso noutros tempos, escreveu Richard Silverstein, cronista do Middle East Eye.
Como reagirá o resto do mundo - especialmente o Ocidente liberal - perante a escalada da extrema-direita em Israel? Pappé não tem grandes esperanças, ao dizer que “não haverá mais do que palavras” da parte das elites ocidentais. O futuro na luta contra um governo de extrema-direita, garante, está na sociedade civil e “nas comunidades judaicas ocidentais, agora que acabou a fantasia” de um Israel democrático.
Um dos principais nós que Netanyahu terá, mais cedo ou mais tarde, de desatar é a relação com os países que assinaram os Acordos de Abraão, um passo importante na normalização dos conflitos israelo-árabes. Os acordos, mediados pelos Estados Unidos da América, durante a administração de Donald Trump, estabeleceram em 2022 relações diplomáticas entre Israel, Bahrain e Emirados Árabes Unidos (EAU). “Qualquer ataque à mesquita de al-Aqsa será uma humilhação para os EAU”, considera Lena Obermaier.
Fora algumas desavenças internas, que Obermaier acredita que serão “apanhadas pela imprensa internacional” para dizer que há oposição às políticas que vão contra os direitos civis dos cidadãos israelitas, poderá haver também uma grande resistência por parte dos judeus dos Estados Unidos, uma comunidade importante para a política externa de Israel e que se está a tornar mais reformista que conservadora.
O Ocidente responderá a este novo governo “como sempre” respondeu, considera Denijal Jegic. “Jamais um crime de Israel foi tão brutal que merecesse a condenação dos Estados Unidos e da União Europeia, mas os palestinianos continuarão a resistir de todas as formas possíveis”. “O Ocidente nunca se preocupou muito com aquilo que Israel diz ou faz”, reforça Yara Hawari. “Estas eleições [em Israel] simplesmente mudaram os guardas da prisão” em que vivem os palestinianos. E o debate “nunca será sobre a destruição dessa prisão”. Uma “prisão” que, com apenas cinco dias contados em 2023, já matou três palestinianos, um deles menor, praticamente da mesma idade de Jana Zakarneh.
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