Excitam-se as comadres, descobrem-se as verdades
O tempo da ambiguidade acabou, a Direita decidiu. O PSD assumiu, por interposta Espanha, que planeia governar com os fascistas portugueses. Vale tudo, incluindo governar com racistas e nostálgicos das ditaduras ibéricas. A partir de agora, o que veremos serão truques para esconder o óbvio.
As eleições do fim-de-semana passado em Espanha foram acompanhadas com entusiasmo febril pela nossa direita e extrema-direita, que foi cavalgando a onda das sondagens que davam maioria à direita e extrema-direita espanholas. Enquanto Montenegro papagueava os truques de Feijóo, pedindo o apoio dos socialistas para governar sem maioria, Ventura meteu-se no avião e foi pedinchar selfies a Abazcal, líder dos neofascistas espanhóis. A Iniciativa Liberal foi mais discreta, uma vez que o seu congénere Ciudadanos tinha um colapso anunciado.
As consequências destas eleições ainda não são claras. Se o acordo entre PSOE, Sumar e os partidos das autonomias não se concretizar, teremos novas eleições e dessas eleições poderá mesmo resultar a vitória da direita e extrema-direita. Para já, a direita atirou os foguetes, mas só ficou com as canas. E de repente, a Espanha tornou-se um lugar distante e exótico.
Os poucos dirigentes da direita e extrema-direita portuguesas que não fogem a prestar declarações, foram atacados de súbita amnésia. Já nem sabem em que continente fica Espanha, explicam que cada contexto é muito particular, esqueceram-se dos amigos de há tão pouco tempo.
Ventura é o mais atrapalhado. Foi a Espanha para beijar os pés de um Abazcal vitorioso e acabou acabrunhado, ao lado do maior derrotado da noite. A Iniciativa Liberal festejava a sua associação ao Ciudadanos quando estes estavam em alta. Agora que os Ciudadanos desapareceram, a IL descobriu que afinal não são liberais.
Mas a postura do PSD ao longo desta semana é a mais importante e esclarecedora. A forma como Montenegro não conseguiu esconder o seu entusiasmo com o regresso de assumidos neofranquistas ao poder em Espanha e os paralelos que foi estabelecendo com Portugal não deixam margem para dúvidas. O tempo da ambiguidade acabou. O PSD assumiu, por interposta Espanha, que planeia governar com os fascistas portugueses. A partir de agora, o que veremos serão truques para esconder o óbvio.
O truque principal é revisitar 2015 e papaguear Feijóo. O PSD voltou à tese de que o partido mais votado tem de governar, mesmo que seja contra a maioria do povo. Ao contrário do que estabelece a nossa constituição (e a de Espanha), a direita quer um pacto central que estabeleça uma regra não escrita que decida que os partidos fora do bloco central não podem contar para nada.
Só que o argumento só vale de vez em quando. Quando o PSD precisou do Chega para chegar ao poder nos Açores apesar de o PS ter sido mais votado, a regra foi à vida. Agora volta. Vai voltar e desaparecer em função do que dê jeito para ir ao pote. Em Espanha passou-se o mesmo. É tudo truque, mas o que fica mesmo é a certeza de que a direita já decidiu. Vale tudo, incluindo governar com racistas e nostálgicos das ditaduras ibéricas. Quando se excitam as comadres, descobrem-se as verdades.