Movimento Social Nacionalista

MOVIMENTO SOCIAL NACIONALISTA

É uma das fações mais à margem da extrema-direita portuguesa. O Movimento Social Nacionalista (MSN) é composto por um “grupo de veteranos militantes nacionalistas” e inspira-se nos franceses neofascistas do Mouvement d’Action Sociale (MAS). O MSN dedica-se a organizar ações de formação política e de propaganda, ações sociais de ajuda, atividades ao ar livre e eventos a assinalar datas louvadas pela extrema-direita.

Criado no final de 2015, o MSN, que atua em Ovar e no Porto, diz ter três grandes linhas orientadoras: a Nação portuguesa, a qual “atingiu os mais altos cumes na História da Humanidade”; a Revolução, entendida como a “completa renovação de todos os aspetos da vida e da sociedade. Revolução das mentalidades, da cultura, da economia e, finalmente, da forma de governo”; e o Socialismo, encarado como “medidas necessárias que conduzam o nosso povo a um maior nível de qualidade humana, tanto física como ética, como espiritual e uma formação pessoal e cultural superior”.

"É a todos nós, nacionalistas e patriotas, a quem cabe guardar e defender o facho milenário dos valores eternos da lusa pátria, sobretudo num tempo em que tais valores são tão atacados e vilipendiados" – declaração de membro do MSN no 10 de junho de 2020

Três pilares que se baseiam nos alicerces ideológicos dos franceses neofascistas Mouvement d’Action Sociale (MAS): “social, nacional e radical”. O MAS foi criado em 2008, quando a então Frente Nacional (hoje Reagrupamento Nacional) francesa vivia uma crise interna, e inspirou-se no pensamento do ideólogo neofascista italiano Julius Evola e no movimento italiano CasaPound, sem querer, no entanto, copiá-lo à letra. Também estabeleceu ligações com organizações identitárias, como a Terra e Povo, e com os neonazis do Aurora Dourada, até ser dissolvido em junho de 2016.

“[O MAS] Foi uma tentativa de organizar uma rede na encruzilhada do nacionalismo revolucionário com a Nova Direita [nouvelle droite], numa lógica antissistema. Queriam abrir novas perspetivas no movimento, ecologia radical, decrescimento, localismo. Tudo com dimensão europeia”, disse ao francês Le Monde Jean-Yves Camus, politólogo especialista na extrema-direita.

O MAS tornou-se conhecido entre a extrema-direita europeia por se ter tentado infiltrar num conflito social e político entre ativistas da ZAD (Zona a Defender) de Sivens, de esquerda radical, e as autoridades. Os ativistas queriam impedir a construção de uma barragem a 10 quilómetros de Lisle-sur-Tarn, no sul de França, que ia pôr em causa o ecossistema da Floresta de Sivens. 

Mais tarde, o MAS juntou-se a outras organizações de extrema-direita em protestos e ações violentas contra os migrantes que queriam entrar no Reino Unido e se viram encurralados em Calais, no Norte de França.

Daí que, a 13 de fevereiro de 2016, o MSN, com membros da classe trabalhadora e da pequena burguesia, tenha organizado uma conferência sobre a “experiência militante do Mouvement d’Action Sociale”. Foi das poucas iniciativas de formação alargada ao público que organizou. 

O MSN defende o regresso do serviço militar obrigatório, uma já velha bandeira da extrema-direita portuguesa, e que os cidadãos, uma vez terminado o serviço militar, possam conservar a arma de serviço e o respetivo equipamento, sendo chamados regularmente para exercícios militares. Também defende a reativação das antigas fábricas de armamento e equipamento militar portuguesas, à semelhança do que acontecia no Estado Novo, e o reequipamento das Forças Armadas. 

O MSN quer ainda a saída de Portugal da OTAN e da União Europeia, substituindo esta última por uma “Aliança Europeia de Nações Livres”, e uma “relação especial com os países que civilizou no passado”, lê-se no seu programa.

Mal surgiu, o MSN, composto por duas dezenas de veteranos militantes nacionalistas, disse logo ao que vinha: não é nem quer ser um partido e espera respeito das outras organizações.

“Com o resto da denominada ‘área nacionalista’ esperamos uma relação de respeito mútuo e reciprocidade. Consideramos lamentáveis, tanto os ódios e os conflitos desnecessários, como as infrutíferas tentativas de convergência que terminam, invariavelmente, mal”, declarou a organização. “Seguiremos o nosso caminho sem interferir no trabalho de outros, dos outros esperamos o mesmo respeito”.

Posição que António Soares, de 59 anos e ex-membro do Movimento de Acção Nacional (MAN), frisou em 2019 à revista Visão. “Os nacionalistas andam metidos em demasiadas querelas de campanário, mas deviam perceber que a crise europeia é a nossa galinha dos ovos de ouro”, disse o veterano nacionalista.

A primeira ação de propaganda do MSN aconteceu no Porto, em março de 2016, com a distribuição de panfletos em caixas de correio. Meses depois os seus militantes colocaram uma faixa em defesa dos 519 trabalhadores despedidos pela empresa de construção Soares da Costa. Seguiram-se outras ações com a colocação de faixas em locais públicos e até uma campanha de cartazes contra o consumo de drogas.

Mas as principais ações da organização têm sido, sem dúvida, as que assinalam datas importantes para o universo da extrema-direita, como a do dia da Restauração, a 1 de dezembro, e o dia de Portugal, a 10 de junho. As ações têm normalmente duas dezenas de membros e acontecem sempre na zona da cidade do Porto.

A 1 de Dezembro de 2019, elementos do MSN celebraram o dia da restauração da independência nacional no Largo D. João III, no Porto, em frente à estátua de Afonso de Albuquerque. O discurso ficou a cargo de António Soares e no final fizeram a saudação fascista, um minuto de silêncio pela “memória dos caídos” em defesa do império português e deixaram um ramo de flores.

Mais recentemente, no final de abril de 2021, os militantes do MSN colaram pequenos cartazes na zona do Porto e em Braga, de promoção de "um 1º de Maio nacionalista" e em "defesa dos trabalhadores portugueses". O mote da campanha foi "solidariedade nacional! Os nossos primeiro!". 

O MSN, ao ser composto por poucos membros veteranos e ao estar localizado quase exclusivamente no Porto, não tem capacidade de dinamismo e mobilização nas ruas portuguesas em prol dos seus ideais de extrema-direita. Marcam presença em manifestações com pouco mais de uma dezena de membros, como aconteceu na "Regenerar Portugal", convocada pelo movimento Defender Portugal, no Porto, em março de 2021, e distribuem propaganda aqui e ali. 

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