Faz parte da equipa da Jacobin Magazine e é autor do livro Yesterday's Man: The Casa Against Joe Biden. Vive em Chicago, no Illinois.

Os Twitter Files são, afinal, um grande problema

Tem havido a tentação, à esquerda, de ignorar as revelações sobre o sistema de censura interna do Twitter que têm surgido do chamado projeto Twitter Files. Mas isso seria um erro: as notícias são importantes e os detalhes alarmantes.

Ensaio
5 Janeiro 2023

Os chamados Twitter Files, que começaram a ser divulgados no início de dezembro passado, têm gerado muito mais discussão sobre as metacontrovérsias em torno da sua divulgação que sobre os “ficheiros” em si: controvérsias sobre quem os divulgou, quem os noticiou e a maneira como o fizeram ou as desnorteadas crenças políticas de alguns dos envolvidos no noticiamento. É uma pena, porque, apesar de falhas importantes, a história dos Twitter Files é uma importante e consequente peça de reportagem a que todos - especialmente à esquerda - deveriam prestar atenção.

Não nos equivocamos: ainda que algumas críticas sobre o projeto, feitas à esquerda do centro político, tenham certamente mérito, isso não significa que as revelações não sejam importantes, ou que a veracidade das informações contidas nos ficheiros seja, de alguma forma, ameaçada pela inclinação política de alguns dos que as noticiaram. Os Twitter Files permitem-nos espreitar pela cortina que cobre as maquinações do opaco regime de censura do Twitter e expôr em grande detalhe a corrente e secreta aliança entre as grandes multinacionais de redes sociais e o aparelho de segurança nacional dos Estados Unidos.

O FBI e a CIA estão profundamente enredados

As mais importantes revelações são, provavelmente, as que dizem respeito ao crescente emaranhar entre o Twitter e outras empresas de tecnologia com as agências de informações e as forças de autoridade, algo que já conhecíamos, mas que neste caso é revelado em maior detalhe.

Os ficheiros confirmam algo que só antes se conseguiu saber na consequência de um processo judicial: que o Twitter e outros executivos de empresas de tecnologia tinham, regularmente, reuniões mensais ou semanais, não só com o FBI e a sua Foreign Influence Task Foce (FITF) - divisão de contra-espionagem formada por oito pessoas e criadas para combater campanhas estrangeiras de desinformação -, mas com praticamente qualquer agência de segurança americana à face da Terra. Além do FBI, incluem-se também o Departamento de Segurança Interna (DHS), o gabinete do Diretor da Inteligência Nacional (ODNI), governos estaduais com o da Califórnia, os Departamentos de Justiça e de Estado e até a Agência de Segurança Nacional (NSA), que pediu para ser incluída num canal de Signal especial, criado durante o período eleitoral para permitir às agências governamentais “alimentar” informação às empresas de redes sociais, ou “à indústria”.

O FBI e um rol de outras agências de segurança estão metidas até aos joelhos nas decisões sobre aquilo que o Twitter e outras empresas decidem censurar.

Uma dessas agências era a OAG, “Outra Agência Governamental”, algo que tanto os e-mails do Twitter como antigos agentes confirmam tratar-se da CIA. Matt Taibbi escreve que a CIA estava “quase sempre” presente nas recorrentes reuniões da FITF com todas as empresas tecnológicas que se possam imaginar. Longe de apenas ficar a ouvir, a CIA era uma participante ativa, regularmente abrindo as reuniões da FITF com um briefing, de acordo com Taibbi, e partilhando informações, através do FBI da FITF, com uma lista alargada de firmas, incluindo até a Wikimedia, “para desenvolver potenciais linhas de investigação”. Num e-mail, o então líder do departamento de privacidade e segurança do Twitter, Yoel Roth, clarificou que considerava que dar informação ao FBI era o mesmo que dar informação à “comunidade de inteligência” por procuração.

A relação era profunda. O Twitter empregava tantos ex-funcionários do FBI que, de acordo com Michael Shellenberger, um dos repórteres conservadores que teve acesso aos ficheiros, estes tinham o seu próprio canal privado de Slack. Até criaram um “diagrama de tradução FBI-Twitter”, uma cábula que permitia aos alunos do FBI traduzir gírias da agência para o seu equivalente no Twitter (“BLUF” [“bottom-line up front” - “a conclusão primeiro”] no FBI era o equivalente a TL;DR [“too long; didn’t read” - “demasiado longo; não li”] no Twitter, por exemplo.)

Nas vésperas das eleições presidenciais, o FBI deu aos executivos do Twitter autorizações de segurança temporárias e partilhou informação confidencial com as empresas de tecnologia, sublinhando que não havia “quaisquer impedimentos” a essas partilhas. Uma plataforma especial chamada Teleporter foi criada para deixar o FBI enviar os seus relatórios para o Twitter, algo semelhante a um portal especial que, sabemos agora, o FBI usa para requerer a supressão de certos conteúdos no Facebook. A certo ponto, Elvi Chan, do FBI, chegou a pedir ao Twitter que lhe fornecesse “qualquer informação de localização associada” a uma lista de contas marcadas por espalharem desinformação eleitoral.

O resultado foi um dilúvio de requerimentos censórios por parte do FBI. A agência, reporta Taibbi, enviou “listas de centenas de contas problemáticas” aos executivos do Twitter, por vezes tão grandes que vinham na forma de folhas de Excel, e “milhares de relatórios maioritariamente domésticos”, apesar de a FITF ter sido feita para se focar influências estrangeira.

O significado desta fuga de informação deveria ser óbvio. Muitos, de vistas curtas, descartaram a primeira divulgação dos Twitter Files sobre a censura ultrajante do Twitter ao New York Post, alegando que esta censura não nos deveria preocupar, já que o governo não estava envolvido. A premissa está errada, mas, mesmo que a aceitássemos, o facto é que o FBI e um rol de outras agências de segurança estão metidas até aos joelhos nas decisões sobre aquilo que o Twitter e outras empresas decidem censurar.

Também se levantaram questões sobre o papel de agências como a CIA e a NSA. É suposto serem serviços de espionagem virados para o estrangeiro, impedidos, pelo menos nominalmente, de virar os seus poderes contra os cidadãos norte-americanos, e ainda assim aqui estão elas claramente a tomar partido, em diferentes níveis, em operações domésticas.

Finalmente, para qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento da história distante e recente da CIA e do FBI, o facto de terem um papel importante na decisões sobre aquilo que as firmas de redes sociais escolhem censurar deve ser perturbador. Por exemplo, o FBI é uma agência que rotulou internamente manifestantes contra a brutalidade policial de “extremistas identitários negros” para os espiar e que tem um longo currículo no que diz respeito a assediar jovens muçulmanos desfavorecidos com esquemas predatórios de entrapment.

O Twitter admitiu que as contas de “influência estrangeira” tinham pouco efeito, mas o FBI pressionou para que mais fosse feito

Ainda que esta promiscuidade seja alarmante, o que é abundantemente claro nestes documentos é que o fenómeno que estas agências deveriam estar a combater - desinformação estrangeira - não o é. Num hábito que se tornou familiar durante a “guerra ao terrorismo”, quando se vê desprovido de ameaças reais, o FBI ou as procura desesperadamente ou, por vezes, inventa-as. E pressionou funcionários do Twitter a fazer o mesmo.

Os e-mails sugerem inadvertidamente que os esforços de desinformação de genuínas contas russas eram marginais e ineficazes. Ao descrever as contas russas que foram purgadas do Twitter antes das eleições de 2022, um e-mail interno relata dados decepcionantes: 345 estavam inativas, e as dez que estavam ativas “tinham pouco alcance e poucos seguidores”.

Na verdade, muita da suposta atividade suspeita não tinha nada que ver com inimigos governamentais. O FBI transmitiu suspeitas e artigos noticiosos que alegavam que sinistras forças estrangeiras estariam por detrás dos protestos causados pelo assassinato de George Floyd, da existência de afroamericanos pró-Trump e de várias contas suspeitas, apenas para depois lhes ser dito que a sua origem era doméstica. Um analista “não encontrou qualquer ligação à Rússia'', disseram, tal como um outro funcionário que levou a cabo uma confirmação dessa informação. “Posso trocar umas ideias com [censurado], ver se podemos ir mais fundo e tentar encontrar uma ligação mais forte”, ofereceu-se o analista.

Como sugere essa frase, o FBI não tinha vergonha em fazer notar o seu descontentamento quando o Twitter falhava em encontrar essas ameaças estrangeiras, nem em pressionar os funcionários da rede social a procurar melhor. Em julho de 2020, o FBI enviou ao Twitter um longo questionário exigindo uma explicação para a sua conclusão de que “não observou muita atividade recente de contas oficiais de propaganda na sua plataforma”, e incluiu uma lista de estudos cujas conclusões estariam “em profundo contraste com a vossa própria análise”.

O FBI também pressionou o Twitter a relaxar os seus padrões de privacidade e a entregar mais dados de utilizadores. Perguntou a executivos se poderiam rever os termos de serviço.

Roth, “perplexo”, comentou que as perguntas se pareciam “mais com algo que receberiam de um comité do Congresso que do FBI” e declarou que não estava “confortável” com a implicação de “media controlado pelo Estado” que carregavam. Noutro e-mail, um executivo diz que não analisou uma conta chamada InfoBRICS - já que o governo russo é, abertamente, um membro dessa organização económica -, mas fez notar que “a nossa janela de oportunidade está a fechar-se, dado que os parceiros governamentais estão a tornar-se mais agressivos na atribuição”.

O FBI também pressionou o Twitter a relaxar os seus padrões de privacidade e a entregar mais dados de utilizadores. Perguntou a executivos se poderiam rever os termos de serviço, para que permitissem às agências governamentais recolher mais facilmente dados de fontes abertas (disseram que não) e se partilhariam informações de contas que usavam VPN, usados para dissimular atividade online (também disseram que não).

“Temos visto um esforço sustentado (mesmo se descoordenado) da parte da comunidade de informações para nos levar a partilhar mais informações e alterar as nossas políticas de API”, escreveu o diretor de política pública Carlos Monje em janeiro de 2020. “Investigam e pressionam onde quer que podem (inclusive influenciando funcionários do Congresso). Devemos manter-nos unidos contra estes esforços.”

Isto aconteceu até, pelo menos, agosto de 2022, quando um executivo avisou que o FBI ia aproveitar uma reunião para “convencer-nos a produzir mais requerimentos urgentes de divulgação”, requerimentos que permitem ao FBI ter acesso a dados sem mandado judicial. Num telefonema de preparação da reunião, o FBI “enfatizou repetidamente que o Twitter tinha um nível baixo de complacência em comparação com outras plataformas” e que planeava trazer estatísticas para prová-lo.

Quando não estava a pressionar o Twitter para encontrar provas de ameaças estrangeiras, o FBI preocupava-se com sátira rasa, por falta de ter mais o que fazer. Muitas das contas marcadas e até suspensas por desinformação eleitoral eram contas com poucos seguidores a fazer a mesma piada foleira que dizia às pessoas para irem votar no dia errado, sem qualquer engajamento, uma tendência que apanhou contas alinhadas com o Partido Democrático tanto quanto as outras. O FBI apenas “fazia pesquisas por violações [dos termos de serviço]”, escreveu um executivo legal. Até um antigo conselheiro legal do FBI que se tornou advogado do Twitter achou “estranho estarem a procurar por violações às nossas políticas”.

E não era só o FBI. “A equipa de Biden não estava muito satisfeita com a abordagem de aplicação das diretivas do Twitter, sendo que queriam que mais contas fossem suspensas”, escreveu o diretor de política pública do Twitter, em dezembro passado. “Por causa deste descontentamento, pediram-nos que nos juntássemos a várias outras reuniões. Estavam muito irritados”. A Casa Branca em particular pressionou o Twitter a banir Alex Berenson, antigo repórter do New York Times que espalhou informações dúbias sobre a covid-19 e as vacinas durante a pandemia.

O facto de Berenson espalhar disparates não torna esta revelação menos perturbadora: aceitar este precedente é aceitar que qualquer futura Casa Branca pode pressionar o Twitter ou qualquer outra empresa de redes sociais para que remova uma conta se decidir estar a espalhar desinformação.

O Twitter censurou propaganda estrangeira rotulada pelos EUA enquanto ignorava a versão doméstica

Havia um profundo contraste entre os tratamentos que o FBI dava a contas tidas como propaganda estrangeira, ou mesmo só contas estrangeiras estatais, e a contas norte-americanas equivalentes, às quais era dado um livre trânsito.

Relatórios de informações marcaram dezenas de vídeos do YouTube e publicações alegadamente ligadas a fábricas de trolls russas que “espalhavam narrativas predominantemente anti-ucranianas”, listaram mais um milhar de contas que determinaram estar “ligadas aos regimes de [Nicolás] Maduro (VEN) & [Miguel Mario] Díaz-Canel (CUB)” e que “propagavam hashtags anti-Bolsonaro/pró-Lula”.

O Twitter, que é suposto ser uma “praça pública global”, está a ser usado como ferramenta geopolítica ao serviço dos interesses de política externa de um governo.

Entretanto, há provas de que o Twitter tratava a propaganda ligada ao governo dos EUA de maneira muito diferente. A partir do material encontrado nos Twitter Files, Lee Fang, do Intercept, descobriu que o Twitter isentou da censura várias contas a pedido de Washington. Contas que o Pentágono usava para tentar moldar a opinião pública em países como Iraque e Síria, incluindo meios de comunicação criados pelo governo. A empresa deixou-as operar livremente durante anos na plataforma, mesmo depois de o Pentágono esconder a sua ligação a essas contas, tal como o FBI acusou a Rússia de fazer.

O Comando Central dos EUA pediu ao Twitter, via e-mail, para pôr numa “lista branca” certas contas de língua árabe, possivelmente marcadas como sendo bots, que “nós usamos para amplificar certas mensagens” e que “tinham um considerável número de seguidores e que esperamos conseguir recuperar”. Uma dessas contas, já desativada, promovia a invasão saudita do Iémen, apoiada pelos EUA, e pintava os ataques de drones norte-americanos como “precisos”, nunca matando civis, apenas terroristas.

Por outras palavras, a crescente aliança entre o Twitter e o aparato estatal de segurança não traz à tona apenas questões de censura política. Também sugere que o website que é suposto ser uma “praça pública global” está a ser usado como ferramenta geopolítica ao serviço dos interesses de política externa de um governo.

O Twitter tem muitas maneiras de suprimir os seus utilizadores - e as regras de atuação são inconsistentes e ad hoc

Finalmente, essa tranche de documentação mostra que, mesmo sem pressão governamental, os executivos do Twitter tinham o hábito de saltar por cima das próprias regras e dos procedimentos estabelecidos para censurar aquilo que consideravam desinformação.

Através de “filtros de visibilidade”, o Twitter, afinal, tem uma variedade de ferramentas que pode usar para “suprimir aquilo que as pessoas vêem, em diferentes níveis”, disse um funcionário a Bari Weiss, sem que haja uma suspensão ou expulsão. Contas individuais usadas por Weiss como exemplos mostram coisas como “lista negra das trends”, “lista negra de busca” e “não amplificar”, todas categorias feitas para tornar mais difícil aos utilizadores procurar e descobrir certas contas.

Weiss estava, previsivelmente, focada em contas de direita para provar a sua tese, mas dado que a equipa responsável por esta função “lidava com cerca de 200 casos por dia”, de acordo com Weiss, é bastante possível que haja exemplos de esquerda que os repórteres não se deram ao trabalho de procurar.

A “moderação de conteúdo” do Twitter esteve muitas vezes longe de ser equilibrada e previsível - como uma política de ação deve ser -, sendo em vez disso frequentemente decidida na base de um capricho.

Tal como com a história do computador de Hunter Biden, os executivos do Twitter pareciam estar ativamente à procura de justificações para censurar aquilo que queriam ver censurado de qualquer forma. Roth disse a um colega que o Twitter “usou uma tecnicalidade na aplicação de medidas contra o spam para resolver um problema criado pelo facto de o departamento de Segurança não aplicar as suas políticas”.

No processo, os executivos do Twitter parecem andar a gerar criativas reinterpretações das políticas existentes, ou simplesmente a inventar novas regras em cima do joelho. A decisão de banir Donald Trump, por exemplo, aconteceu apenas um dia depois de a empresa criar um novo sistema de “cinco faltas” para suspensões permanentes - e depois de Roth ter notado que Trump ainda só tinha cometido quatro. Um funcionário chamou-lhe “uma decisão única, ad hoc”. 

Não foi o único exemplo de um funcionário do Twitter a chamar um ato de censura de “decisão única”. Para levar a cabo a expulsão de Trump, Roth também clarificou que “neste caso específico, estamos a mudar a nossa política de abordagem ao interesse público para a conta [de Trump]”, a política da firma de inspeções de interesse público, a qual designa especificamente “tweets de oficiais eleitos e governamentais”.

Por diversas vezes, os tweets de Trump marcados como problemáticos acabaram por se revelar, estritamente falando, factualmente corretos, ou assumidos como não violando quaisquer normas, com o líder da equipa legal do Teitter, Vijaya Gadde, a sugerir que se interpretassem os últimos como “incitamento codificado à violência”. Sem uma “política firme que servisse de base para ação” sobre a conta do ator James Wood, depois deste ter tweetado que o Twitter estava a “suprimir” a conta de Trump, a empresa decidiu “dar-lhe duro em futuras violações com bases mais fortes”.

Por outro lado, o Twitter foi brando com tweets vindos de contas anti-Trump que afirmavam que Trump e a juíza do Supremo Tribunal Amy Coney Barrett roubariam as eleições. Num dos casos, Roth interferiu diretamente para que o Twitter revertesse a decisão de pôr um aviso num tweet de um antigo advogado de Barack Obama, Eric Holder, que dizia ser “demasiado tarde para usar os correios” para votar e incitava as pessoas a ir votar presencialmente, enquanto acusava o Supremo Tribunal de tentar “tirar os direitos mais valiosos” às pessoas. (A propósito, minar “as funções críticas de outras instituições democráticas, como os tribunais”, era um dos tipos de desinformação que a DHS designou como prioridade a combater).

Nada disto absolve as vozes tóxicas de direita das suas muitas alegações duvidosas sobre as eleições de 2020. Aliás, mostra-nos a natureza inerentemente subjetiva de decidir o que é ou não desinformação, e como isso torna o processo inevitavelmente inconsistente e moldado pelos vieses de quem quer que seja que os está a aplicar - e que pode não ter estima por valores liberais ou inclinações políticas pró-democráticas. Mais do que isso, mostra que a “moderação de conteúdo” do Twitter esteve muitas vezes longe de ser equilibrada e previsível - como uma política de ação deve ser -, sendo em vez disso frequentemente decidida na base de um capricho.

Sem razão para descansar

Muitos têm sido lestos a ignorar tudo isto porque os exemplos ilustrativos desta censura têm sido de pessoas genuinamente repugnantes ou politicamente antipáticas.

A repressão política, se lhe for permitido ganhar um ponto de apoio, começa sempre nas franjas do que é aceitável, expandindo-se depois, devagar, para calar vozes dissidentes mas legítimas e que nunca deveria ter atingido. É por isto que liberais e esquerdistas denunciaram ferozmente uma panóplia de abusos da “guerra ao terrorismo” que em primeiro lugar serviam para atingir terroristas - não porque concordassem com os terroristas, mas porque entendiam que esses poderes podiam ser facilmente abusados e usados contra outros.

(Taibbi notou, em resposta a uma pergunta minha no Callin, que “contas palestinianas são normalmente o ‘canário na mina de carvão’ para novas técnicas de moderação e censura”, mas acrescentou que não estavam no primeiro conjunto de dados que investigou. “Espero que, quando conseguirmos ter um olhar mais global sobre as coisas, possamos começar a investigar isso”, disse.)

Se Taibbi e outros desenterrarem ou não resmas de casos de censura de contas de esquerda, muitas coisas podem mudar nos próximos anos que tornarão o status quo mais perigoso para a esquerda: o Twitter pode começar a contratar conservadores; pode sobrecorrigir-se quando confrontado com críticas da direita, ou sucumbir à pressão do FBI; as agências de segurança nacional podem embarcar numa repressão mais feroz sobre a esquerda; um republicano pode voltar à Casa Branca; um Congresso republicano pode seguir o exemplo dos democratas e pressionar as empresas de tecnologia a censurar aquilo que os conservadores consideram discurso perigoso. Só para nomear algumas possibilidades. A melhor defesa é começarmo-nos a opor a estas tendências já, antes que seja demasiado tarde.

Este artigo foi originalmente publicado na Jacobin Magazine.